A missão, a criação e o bebê
Toda a criação vem homenagear o menino que veio para reconciliar, justamente, toda a criação, a começar com o povo de Deus, mas alcançando “todas as famílias da terra”, e sim, toda a criação.
“Ela dará à luz um filho e você porá nele o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles.” (Mateus 1.21)
Será que ele sabia? Afinal, era apenas um bebê recém-nascido. Mas ao longo da sua vida e do seu ministério, pelos seus atos e pelas suas palavras, a sua consciência crescia. Ele será a resposta de Deus para a reconciliação de todas as coisas, tanto as do céu quanto as da terra[1], e isto a partir da humanidade, uma nova humanidade[2] de quem era o primeiro[3]. Certamente, Deus já estava revelando esta missão suprema e propósito final por meio do próprio cenário do nascimento.
Primeiro e acima de tudo, Jesus veio para “salvar o seu povo dos pecados deles”[4]. Afinal, seu nome é “Jesus”, que significa: “Deus (Iahweh) salva” e ainda “Emanuel”, que significa Deus conosco”. Isto se refere não só ao povo judeu, herdeiros das promessas de Deus para Abraão e Davi[5], mas também a todos os diversos povos representados pela vinda dos magos[6]. Magos do oriente! Quem serão? Imãs muçulmanos? Brâmanes hindus? Mondes budistas? Se fosse hoje, poderia ser. Mas naquela época eram provavelmente sacerdotes da corte do império Parta, que praticavam magia e astrologia. Estes já reconheceram Jesus como o “Rei dos judeus”![7] Assim, já no seu nascimento, fica evidente a comissão que Jesus deu para “fazer discípulos de todos os povos”[8], mesmo os seus líderes religiosos.
Segundo, o plano de Deus para a reconciliação de todas as coisas, a começar pela humanidade, teve e sempre tinha oposição violenta… e oposição política, que por sua vez exige do povo de Deus coragem e revelação de Deus e como agir.[9] Não tem jeito. A missão da reconciliação de toda a criação envolve a política.
Terceiro, toda a criação vem dar homenagem ao bebê, a começar com o céu, que envia a sua embaixadora-evangelista em forma de uma estrela.[10] Por que embaixadora? Porque era o emissário do próprio Deus. E por que “evangelista”? Porque leva os gentios para adorar Jesus nos lembrando que o maior missionário de Deus é a criação, como nos bem lembra o Salmo 19.1: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos.”
E ainda tem os pastores e seus rebanhos. Bem, os pastores certamente foram ver a criança. A Bíblia não menciona a presença dos rebanhos, apesar de ser cenário comum dos nossos presépios. E não sem nenhuma razão. Afinal, a manjedoura[11] tipicamente ficava em um anexo das casas para abrigar os animais domésticos. Assim, o quadro se completa: toda a criação vem homenagear o menino que veio para reconciliar justamente toda a criação, a começar com o povo de Deus[12], mas alcançando “todas as famílias da terra”[13], e sim, toda a criação[14].
Logo, não nos desanimemos diante dos desafios de uma criação agonizada[15]. O modelo a seguir é a do bebê que, mesmo fraco e nascido em condições humildes, está neste processo já em andamento, de reconciliar todas as coisas e fazer deslumbrar novo céu e nova terra.
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Nota: Texto de Timóteo Carriker, integrante do GT Teológico do movimento Renovar Nosso Mundo. Ele é pastor, professor e escritor. Ele foca seu interesse especialmente nos fundamentos bíblicos da missão da igreja, na contribuição da ciência social no desenvolvimento de teologia local e contextualizada e na comunicação intercultural e teologia de cuidados com a criação.
[1] Cl 1.19-20, Ap 21.1-2
[2] Paulo está traduzindo ādām khādhāsh do hebraico para o grego, kainos anthrōpos, literalmente “nova humanidade” Ef 2.14-16; 4.24; Cl 3.10 (alusão clara a Gn 1.26-28); Hb 2.5-9 (Sl 8).
[3] Rm 5.12-21
[4] Mt 1.21
[5] Mt 1.1,17
[6] E em Lucas 3.38, pela sua genealogia desde Adão, origem de toda a humanidade.
[7] Mt 2.2
[8] Mt 28.19
[9] Mt 2
[10] Mt 2.9-11
[11] Lc 2.12
[12] Gn 12.1-2
[13] Gn 12.3
[14] Gn 9.9-11
[15] Rm 8.20